Será
que estamos perdendo definitivamente a compostura? Não sabemos mais o
que é público e o que é privado? Onde foi parar aquela pitada de
respeito, vergonha ou pudor antes de emitir um simples palavrão,
escolher uma roupa para sair e tratar os mais velhos?
Somos
parte de um grande Big Brother e já nos acostumamos a ele. Vidas
inteiras são escancaradas nas redes sociais sem o menor pudor. O que
você faz na cama, na mesa e no banheiro já não é mais segredo para
ninguém. Por mais que se cuide, o cara da manutenção do micro dá um
jeito de torná-lo público na rede.
Nesse
Big Brother internacional em que se transformou a sociedade
pós-moderna, a vida das celebridades é pouco para ocupar o tempo das
massas. Já imaginou o que seria do mundo sem o Facebook, o Youtube, o
Twitter e milhares de blogues para distrair o povo? As pessoas teriam
que se ocupar melhor e isso contraria a natureza humana.
Ser
celebridade agora é fazer parte do YouTube, cantando “para nossa
alegria”, declamando poemas no vaso sanitário, rindo à toa, espancando
moradores de rua ou fazendo algo do tipo “Michel Bieber” com o refrão
mais louco do mundo: “baby, baby, nossa, assim você me mata”. Falem mal,
mas falem de mim.
Das
redes sociais para o elevador. Entro num deles sou agraciado com a
presença de cinco ninfetas. Em menos de quinze segundos sou bombardeado
com nove palavrões em cada frase de dez. Fico na dúvida quanto ao lugar e
à idade das meninas. “Foda, merda e caralho” são elogios quando
comparados ao vocabulário predominante no recinto. Fico na minha para
não ser execrado. Coisa de doido.
Do
elevador para o shopping apinhado de gente. Não se sabe mais quem é mãe
e quem é filha. Vejo um casal de mãos dadas olhando inadvertidamente as
vitrines. A mulher não cabe mais dentro de si com tantos olhares à sua
volta. O vestido justo salta aos olhos. Parece que foi picada por um
enxame de abelhas nas duas nádegas, visivelmente arrebitadas.
Do
shopping para o casamento na igreja, com direito a limusine, coral e
dois padres para dar conta do recado. As mulheres estão impecáveis.
Difícil saber se estão num desfile, num passeio ou num teste para a
novela das nove. É só um casamento, mas a competição – decotes, saias
curtas e vestidos justos – desconcerta os padres.
Da
igreja para a balada. Quem vai ficar com quem? São tantas as opções. À
noite todos os gatos são pardos, não dá para ficar sozinha. Vestido
longo já era. O ideal é curto mesmo. Calcinhas à mostra. Seios de furar
os olhos da próxima vítima. Pernas bem torneadas sempre ajudam, mas não
são suficientes para atrair a presa.
Eu quero mesmo é ser feliz, retruca uma delas, questionada pelo repórter da night
curitibana. Ninguém paga minhas contas, diz a outra. Imagino que
ninguém queira mesmo pagar a conta, afinal, não deve ser fácil ganhar
apenas para se vestir, viver a vida em baladas, literalmente, e
perambular de boteco em boteco, à procura da felicidade.
A
nova realidade do mundo é essa, aceitável, do ponto de vista
filosófico, porém, inaceitável, do ponto de vista da moral e dos bons
costumes. O mundo não é mais o mesmo, isso é fato. Se este é o mundo que
queremos deixar para os nossos filhos e netos, isso é outra história. A
realidade é o que ela é e não o que você gostaria que fosse.
Minhas
convicções são muito claras sobre o que é público e o que é privado na
vida pessoal. Fora da casinha, diriam alguns. Esquisitices da meia
idade, diriam outros. Não quero que mude suas convicções, mas torço para
que pense a respeito.
Parei
por aqui. Será que as pessoas precisam de tanta exposição para
conquistar um lugar ao sol? Por vezes, quando o privado se confunde com o
público, acaba, literalmente, na privada.
Pense nisso e seja feliz!