Depois
que eu saí da minha cidade que não era a cidade natal, mas a que minha
família adotou logo depois que eu desembarquei no mundo, as palavras de
minha mãe permaneceram impregnadas na minha mente por muito tempo. Tenho
a plena convicção de que ela queria o meu melhor e, na sua humilde
concepção, o melhor naquele momento era ficar onde eu estava.
No
dia em que eu saí de casa, minha mãe me disse: filho, vem cá! Passou a
mão em meus cabelos, olhou em meus olhos, começou falar: - o que é
que você vai fazer em Curitiba? Você nem conhece direito. Fica aqui com a
mãezinha, pois você tem emprego, casa, comida e roupa lavada. Além do
mais, pode se aposentar na mesma empresa em que seu pai vai se
aposentar.
Isso
aconteceu há trinta anos e, de fato, meu pai se aposentou depois de
anos de bons serviços prestados, na mesma função em que foi admitido, no
ano em que nasci. O fato é que eu estava determinado a vir para a
cidade grande em busca de algo novo, do desconhecido que nem mesmo eu
sabia o que era.
Aquela zona de conforto
representada pela tranquilidade das pequenas cidades e pela promessa de
trinta e cinco anos de estabilidade não estava nos meus planos. Apesar
de tudo, reconheço o esforço do meu pai e a sua infeliz condição de ter
sobrevivido e feito o que pode pelos filhos. Isso não é bom nem ruim. É o
que a história pessoal de cada um proporciona. O que você faz com as
lições que tira de tudo isso é o que torna a vida boa ou ruim.
Durante
os meus trinta e três anos de carreira profissional eu passei por oito
empresas diferentes. De uma forma ou de outra, eu fui trilhando um
caminho após o outro sempre com a esperança de que o próximo fosse
melhor do que o anterior. Cada vez que eu percebia a possibilidade de
melhorar de cargo ou de aumentar a renda, não pensava duas vezes.
Em
1982, eu abandonei o emprego no antigo Banco Bamerindus para não
desperdiçar a chance de ser admitido na Brahma, cujo salário era três
vezes maior do que o que eu ganhava e as perspectivas bem mais
promissoras. No meu caso específico, a zona de conforto sempre me
incomodou.
Tudo
o que ser humano em geral mais deseja é um emprego duradouro,
benefícios de toda ordem e uma perspectiva de mais ou menos trinta e
cinco anos de trabalho até chegar ao que ele chama de feliz
aposentadoria. E, se não for pedir muito, não exija muito esforço que o
descontentamento torna-se visível.
Em
geral, isso é o que acontece com determinados funcionários públicos que
estudaram anos para passar num concurso. Depois de se dar conta da
realidade à sua volta, perdem a motivação, tornam-se fantasmas
remunerados, conspiram contra o governo, envolvem-se em atividades
paralelas e, por fim, ficam contando os dias para se aposentar e assim
livrar-se da incômoda zona de conforto que eles mesmos ajudaram a
produzir.
A zona de conforto
é uma opção particular, uma escolha pessoal que não pode ser atribuída a
terceiros. Representa a sua filosofia de vida, o seu nível de ambição e
o nível de comprometimento com a sua própria evolução pessoal e
profissional. É o reflexo da opção inequívoca pela estagnação.
Embora
a zona de conforto seja quentinha e aconchegante, ela nunca será
promissora. É duro sair da cama com menos dois graus centígrados lá
fora, mas se você não fizer isso, o gelo não sai do carro sozinho, a
comida não chega até a sua cama, os clientes não aparecem com o pedido
na mão tampouco o patrão vem na sua casa perguntar se você está bem.
Na
medida em que você permite, a zona de conforto vai atrofiando a sua
capacidade de resposta e você torna-se tão vazio e insosso quanto aquele
seu tio ranzinza que não sabe fazer outra coisa na vida senão ficar
reclamando do governo e da comida da sua tia sem se desgrudar do
controle remoto.
Por
que você deve sair da zona de conforto? Poderia escrever um tratado
sobre isso, mas vou lhe dar apenas quatro razões. Ainda que isso possa
mexer com os seus sentimentos, dificilmente vai mudar a sua história se
você mesmo não estiver determinado a mudá-la.
Mais dia, menos dia, você será obrigado a sair da zona de conforto:
as dificuldades são transitórias e como a incerteza é a única certeza
visível, quanto mais você enfrenta os problemas, mais chances têm de
sobreviver nesse mundo que em todo momento vai testando a sua capacidade
de superação.
Tudo na vida é experimentação,
dizia Emerson, o grande pensador norte-americano, portanto,
experimentar, arriscar de vez em quando ou tentar coisas novas ajudam a
melhorar o nosso protótipo. E não há como melhorar algo se você não
pensa diferente nem se esforça para isso.
Uma vida mais interessante e desafiadora:
imagine que no dia da sua partida alguém faça um comentário do tipo
“falecido era tão bom!” É muito pouco para uma pessoa que tem o mundo à
sua disposição para fazer algo diferente e produtivo em favor da
humanidade. São os desafios, e não apenas as conquistas, que tornam a
vida interessante.
A zona de conforto é o começo do fim:
no dia em que você acreditar que já fez tudo ou aprendeu tudo você
estará perdido; que não evolui simplesmente regride; o ápice da
sabedoria ocorre nos segundos que antecedem o exato momento de você ir
embora, porém, meu amigo, nessa hora já não dá tempo de fazer mais nada.
Pense nisso e seja feliz!
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