Será que estamos vivendo definitivamente num país que optou pela
desonestidade, pelo jeitinho brasileiro, pelo modo mais fácil de
conseguir as coisas, custe o que custar? Trabalhar para conseguir algo
de maneira honesta, respeitar os mais velhos, cumprir as leis ou torcer
pelo sucesso alheio é tão difícil assim?
Estamos no Brasil, amigo, entretanto, o fato de estarmos no Brasil
nos permite tudo? Está escrito na constituição ou em algum código moral
que as coisas ilícitas são permitidas no país, desde que você não mate
ninguém? E se matar alguém, ainda que consiga cumprir ou livrar-se da
pena, significa que a sociedade deve perdoá-lo por isso?
Há pouco mais de trinta ou quarenta anos, o conceito de honestidade
era mais presente na família, na escola e na sociedade em geral. Havia
uma boa noção do que era permitido ou não. Os políticos eram menos
dissimulados ou, pelo menos, disfarçavam melhor, e as crianças já saíam
de casa mais preparadas e conscientes com relação ao seu dever para com a
sociedade.
Havia exceções? Claro que sim, porém, menos escancaradas do que a
dissimulação geral que tomou conta da nossa sociedade, infectada pelos
vírus da preguiça e da covardia. Aceitamos tudo embora não concordemos
com tudo, mas a inércia nos deixa, literalmente, de braços cruzados.
A indignação geral não é suficiente para mobilizar as massas em torno
de algo que não se justifica, mas explica toda nossa passividade.
Assim, em vez de demonstrar a nossa insatisfação, fazemos piada e, não
raro, conseguimos rir da desgraça alheia como se fosse um acontecimento
corriqueiro.
Chegamos a tal ponto que, em vez de investirmos pesado em educação,
princípios e valores bem fundamentados, estamos preocupados com a falta
de duzentos mil vagas nas prisões brasileiras. Trezentos mil vagas
disponíveis não são suficientes para acolher parte da nossa sociedade
combalida.
Quer saber mais? Um milhão de vagas nos presídios não será
suficiente, pois, o problema do Brasil não é espaço nem dinheiro.
Vivemos uma crise moral, ética, educacional e política. Carregamos,
tristemente, o estigma do jeitinho brasileiro, onde nada é permitido,
mas tudo é admitido. A diferença é que ficamos sabendo mais rápido por
meio da Internet e da televisão.
A notícia é instantânea, a reação nem tanto. Não ficamos mais
chocados com tudo isso. Fazemos como a própria justiça, cega, surda e
muda, a menos que tudo isso ocorra no quintal da nossa própria casa. Se
somos todos honestos, até prova em contrário, onde foi parar a nossa
indignação?
O que a maioria das pessoas aprende dentro de casa é diferente. Não
me lembro de ter conhecido alguém cujos pais ensinaram a roubar, matar,
enganar, dissimular ou mentir descaradamente. Ao contrário, aprende-se
desde pequeno o que é certo ou errado, moral ou imoral, aceito ou não
aceito pela sociedade. E no fundo da nossa consciência ainda existe um
pouco de discernimento.
Honestidade é algo simples, não requer prática nem habilidade. Basta
fazer apenas aquilo que você aprendeu quando era criança: “se não é seu,
não pegue”, “pegou por engano, devolva”, “pedir não ofende”, “diga
sempre a verdade” e a melhor de todas: “não faça aos outros o que não
gostaria que fizessem a você”.
Infelizmente, ser honesto numa sociedade onde a honestidade tem pouco
valor é motivo para entrevista na televisão com direito a quinze
segundos de fama. Isso justifica um pouco o que se passa no Brasil,
atualmente, nessa mistura equivocada de coisas públicas e privadas. Como
diria Jean de La Bruyère, ensaísta francês: “Até mesmo os homens
honestos precisam de patifes à sua volta. Existem coisas que não se pode
pedir às pessoas honestas para fazerem”.
Pensando bem, a que ponto chegamos. Encerro aqui com uma reflexão de
Voltaire, filósofo francês, escrita há mais de duzentos anos: “Se você
não ensinar as pessoas a serem honestas – no berço, eu diria -, poucas
conseguirão aprender essa virtude por conta própria.”
http://www.jeronimomendes.com.br/pensamento/o-que-e/516-o-que-e-honestidade